"Eles me costuraram com amor... industrial" Entrevista exclusiva com uma Birkin decepcionada
- @mauroeffe
- há 2 dias
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Depois de anos sob os holofotes, nas mãos de celebridades, influenciadores e colecionadores obcecados, uma Birkin histórica quebra o silêncio.
Decepcionada, cansada, ciente de ser mais lenda do que luxo.
Exclusivamente, a sua verdade.
Entrevistador: Obrigado por concordar em falar conosco. Como você está?
Birkin: Como você quer que eu fique? Fui vendida por 18.500 euros, trancada em um armário com ar condicionado por três anos e depois trocada por uma Kelly como se eu fosse uma bolsa qualquer. Preciso de terapia, não de uma entrevista.
Entrevistador: Você era considerado um ícone. Quando tudo mudou?
Birkin: Quando descobri a verdade. Pensei que tinha nascido em Paris, num ateliê romântico, entre mãos experientes e uma pele mimada como um vinho vintage. Em vez disso, descobri que algumas das minhas “irmãs” têm zíperes produzidos no outro lado do mundo, peças de metal feitas em série e acabamentos que, sejamos claros, nunca viram a Provença.
Entrevistador: Mas a empresa diz que as bolsas são feitas à mão na França…
Birkin: Ah, claro. “Feita à mão”… depois que metade do meu corpo chegou pré-embalado do exterior. É como dizer que um suflê é artesanal porque você o assa em casa, mesmo que o tenha comprado congelado no supermercado.
Entrevistador: Você se sente traído?
Birkin: Traída? Sinto-me marcada e abandonada. Eles usaram meu nome, minha história, o mito do savoir-faire francês… e então começaram a brincar com a produção global, como se fôssemos um par de tênis fast fashion. Mas com o preço de um carro pequeno.
Entrevistador: O que você diria às pessoas que ainda querem comprar seus produtos?
Birkin: Olhe para mim. Olhe além do preço, além da poltrona de couro nas lojas, além do arrogante “Made in France” estampado em ouro. Pergunte a si mesmo: Você está me comprando ou a ilusão de mim? Porque se você realmente quer uma bolsa francesa feita com amor, talvez você devesse conversar com Claudine, a costureira aposentada que trabalha nos fundos em Marselha. Agora sou uma diva desiludida.
Entrevistador: Você tem um sonho hoje?
Birkin: Sim. Ir morar no campo, com uma coleção de bolsas verdadeiramente artesanais. Chega de jatos particulares, chega de prateleiras de vidro. Eu só quero alguém que me use porque me ama, não porque me exibe no Instagram.
Birkin se levanta, elegantemente rígida, fecha sua fivela em protesto e vai embora.
Um ícone cansado, mas finalmente livre para ser ela mesma.
Mesmo que, no fundo, ele ainda tenha esperança de que um dia o luxo volte a ter um pouco mais de verdade e um pouco menos de marketing.
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