top of page
Buscar

Posando em viagem: quando o mundo se torna um estúdio fotográfico para o seu feed

  • Foto do escritor: @mauroeffe
    @mauroeffe
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura
ree

Viajar para ser visto

Já não se viaja apenas para “ver” um lugar, mas para fazer parte dele: dentro de uma foto, em uma moldura reconhecível, pronta para as redes sociais.O turismo contemporâneo vive também de cenários globais — monumentos, praias, skylines — que se transformam em palcos da nossa identidade digital.Nessa nova estética da viagem, a foto deixa de ser lembrança depois da experiência e se torna a própria razão de partir.

“Queria refazer aquela foto que vi no Instagram”, confessa um viajante em Positano. “Não imaginava quanta gente encontraria na fila para tirá-la.”

A era do turismo fotográfico-social

De acordo com pesquisas recentes:

  • 68% dos viajantes compartilham fotos das suas viagens nas redes sociais (Travel Agent Central, 2024)

  • 48% admitem escolher um destino com base em “como ele sairá bem na foto” (Statista, 2023)

  • 75% dizem encontrar inspiração para suas viagens observando imagens de outros nas redes.

A tendência é clara: viajar tornou-se também comunicar.Cada lugar visitado é um conteúdo em potencial, cada pôr do sol um filtro a escolher.

Itália em foco: os lugares mais “instagramáveis”

A Itália, musa eterna das viagens, vive hoje uma segunda juventude graças às redes sociais.Entre os destinos mais fotografados:

  • Veneza, com o reflexo dourado dos canais ao amanhecer;

  • Positano, ícone mediterrâneo de curvas e tons pastéis;

  • Roma, onde o Coliseu continua sendo o monumento mais compartilhado da Europa no Instagram;

  • Florença, com o Duomo e a Ponte Vecchio protagonizando milhões de selfies artísticas;

  • Matera, que nos últimos anos ganhou visibilidade mundial graças a imagens virais.

Em muitos casos, as prefeituras incentivam o fenômeno: pontos panorâmicos estruturados, hashtags oficiais e festivais de fotografia.

Os ícones do mundo

Em escala global, alguns lugares se tornaram verdadeiros santuários da imagem:

  • Bali e suas piscinas infinitas com vista para a selva, onde cada clique vale um post dos sonhos;

  • Santorini, rainha do branco e azul, hoje repleta de fotógrafos ao nascer do sol;

  • Nova York, de Central Park a DUMBO, continua entre as cidades mais fotografadas do planeta;

  • Dubai, laboratório da estética vertical e do espetáculo visual;

  • Quioto, onde a beleza tradicional se encontra com o cuidado milimétrico do detalhe;

  • Rio de Janeiro, do alto do Morro Dois Irmãos, com a melhor vista da Cidade Maravilhosa.

A voz dos viajantes

 

“Não é só vaidade — conta Chiara, criadora de conteúdo de viagens — é também uma forma de lembrar. Mas às vezes percebo que vivi um lugar mais pela tela do celular do que com os olhos.”


“Quando vejo as fotos das minhas viagens, entendo que escolhi certos destinos porque já os tinha visto em um post”, diz Fabio, 35 anos, fotógrafo freelancer.

 

Esses depoimentos revelam um traço comum: a imagem tornou-se linguagem universal da viagem.

Efeitos colaterais e novas oportunidades

O turismo “em pose” não é apenas narcisismo digital.Ele trouxe vantagens reais:

  • visibilidade para destinos menos conhecidos,

  • revitalização de vilarejos e cantos esquecidos,

  • novas profissões ligadas às viagens visuais (fotógrafos de viagem, criadores de conteúdo, gestores de mídia turística).

Mas também apresenta desafios:

  • superlotação de pontos icônicos,

  • experiências mais “encenadas” do que vividas,

  • perda de autenticidade cultural.

Para reagir, muitas localidades promovem rotas alternativashidden spots, itinerários de baixa densidade e campanhas como #TravelRespectfully ou #LeaveNoTrace.

Viajar com consciência (e beleza)

Como viver o turismo da imagem sem reduzi-lo à pura aparência?

  1. Fotografe, mas permaneça.

    Depois da foto, fique alguns minutos para observar, escutar, sentir o lugar.

  2. Busque sua própria perspectiva.

    O mundo não precisa da mesma foto repetida milhões de vezes: encontre o detalhe invisível.

  3. Conte, não apenas mostre.

    As legendas fazem parte da viagem: compartilhe histórias, não apenas cliques.

  4. Respeite o espaço.

    Evite atitudes invasivas ou arriscadas só para conseguir a imagem perfeita.

Conclusão

Hoje, viajar é um ato estético e narrativo: parte-se para fazer parte da imagem do mundo.O turismo fotográfico-social, quando vivido com sensibilidade, pode ser uma nova forma de redescobrir a beleza — não apenas a que se vê, mas a que se cria: com um clique, uma história e uma emoção compartilhada.

No fim, o verdadeiro souvenir não é a foto perfeita, mas o que permanece quando o smartphone está desligado.

 
 
 

Comentários


bottom of page